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quinta-feira, 29 de março de 2012

O Tempo


O Tempo passava em frente à casa onde vivia um homem, nela entrou sem fazer ruído algum. Aproximou-se do homem e, sem que ele notasse, tocou em seus cabelos, que lentamente tornaram-se brancos.

O homem, irritado ao perceber o que o Tempo havia feito, decidiu esconder-se, trancando as portas e janelas da casa. Mas não adiantou. O Tempo passou novamente pela casa e tocou o rosto do homem, que começou a enrugar-se lentamente. O homem então tentou fugir do Tempo e mudou-se para longe.

Uma noite, o homem despertou de seu sono e notou o Tempo passando por ele. Assustado, levantou-se e gritou ao Tempo:

- Pare! Por favor, afaste-se de mim!

Mas o Tempo não parou. Aproximou-se do homem e o abraçou, sussurrando-lhe ao ouvido:

- Não há como fugir, nem pode me fazer parar. Você jamais reclamou enquanto lhe ofereci muito de mim durante toda a sua vida. Mas não aproveitou... e agora deseja que eu me afaste. Seguirei em frente, não há Tempo a perder...

O Tempo continuou seu caminho. O homem, ao compreender enfim, voltou-se para trás e viu todo o Tempo que havia perdido. Estendeu os braços e suplicou:

- Tempo! Por favor, volte!

Mas o Tempo não voltou, continuou seguindo em frente. Não havia como fazer o Tempo voltar atrás...

domingo, 23 de janeiro de 2011

O Forasteiro e o Poço Encantado


Havia um povoado próximo ao deserto, onde existia uma antiga lenda sobre um poço encantado que realizava desejos. Segundo a lenda, ele só aparecia durante o dia em meio às dunas e, após realizar o desejo, desaparecia. A pessoa que o encontrasse deveria fazer um único pedido para o poço e jogar o balde preso à roldana para o fundo dele. Ao puxá-lo de volta para cima, o que foi desejado estaria dentro do balde.

Certo dia, um jovem forasteiro de passagem pelo povoado, ouviu sobre a lenda e decidiu que sairia em busca do poço. Caminhou durante muito tempo pelas dunas de areia dourada, imaginando qual desejo faria ao encontrar o poço:

“Talvez eu peça para que o balde encha-se de jóias preciosas! Ou então as chaves de um suntuoso palácio, onde eu possa reinar! Ou quem sabe um amuleto com poderes fantásticos para que todos temam a mim!”

O calor do sol ficava cada vez mais forte e a água que o jovem havia levado para beber acabou mais cedo do que imaginava. A sede tornou-se insuportável e ele, não agüentando mais caminhar, deixou-se cair na areia quente, sem esperanças de sair vivo daquele deserto. Fechou os olhos e lamentou-se:
- Vou morrer por ambições que parecem agora tão sem importância para mim... Tudo o que desejo neste momento é água para beber...

O jovem sentiu uma brisa em seu rosto e, ao abrir os olhos, havia um poço bem na sua frente. Espantado, reuniu forças para se levantar e foi até ele. Aproximou-se, segurou o balde que estava sobre o poço e o jogou para o fundo. Ao puxá-lo de volta, o balde transbordava de água fresca.

Enquanto bebia a água, ele sentiu suas forças voltarem, como por encanto. Sem entender o por quê, teve a certeza de que não sentiria mais sede em seu retorno. Começou a caminhar de volta ao povoado e, após alguns passos, virou-se para olhar o poço uma última vez. Mas ele já havia desaparecido.

O jovem forasteiro agradeceu em silêncio. Havia compreendido uma lição valiosa que o deserto lhe mostrara naquele dia.

domingo, 26 de dezembro de 2010

A Busca

Andei, andei, andei...
Onde eu fui parar?
Ali...onde não era meu lugar.

Pensei, pensei, pensei...
Resolvi então voltar.
Aqui...não havia mais meu lar.

Parei, suspirei , me calei...
Quanto tempo se passou?
Tudo ao meu redor mudou.

Olhei, chorei, me conformei...
O passado não mais voltou.
Minha busca então continuou.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Boneca de Porcelana




A garotinha chegou na casa da avó para uma visita e foi recebida por ela com um caloroso abraço. Ao entrarem na sala, a garotinha logo notou uma caixa sobre o sofá e, curiosa, correu para ver o que havia nela. Seus olhos brilharam ao encontrar uma bela boneca de porcelana dentro da caixa.
- Como ela é linda, vovó! – disse a garotinha, encantada.
A avó sentou-se no sofá ao lado da neta e respondeu:
- Eu estava arrumando algumas coisas e a encontrei. Me lembrei de mostrar para você antes de guardá-la de novo. Ganhei essa boneca quando tinha a sua idade.
Segurando a boneca nas mãos, a garotinha admirou cada detalhe e depois perguntou esperançosa se poderia brincar um pouco com ela. A avó respondeu calmamente:
- É uma boneca muito delicada...Quando eu era criança me disseram que ela não foi feita para brincar, por isso ficou sempre guardada em segurança para que não se quebrasse.
Desanimada, a garotinha perguntou:
- A senhora não acha triste uma boneca existir apenas para ficar guardada, vovó?

Ao olhar para a neta, a avó lembrou-se do quanto tinha vontade de brincar com aquela frágil boneca de porcelana quando era criança. Decidiu então deixar que a netinha brincasse o dia todo com ela. Radiante de alegria, a garotinha levou a boneca para brincar no quintal.
No final da tarde, enquanto a avó preparava um lanche, a garotinha entrou chorando na cozinha. Carregava nas mãos a boneca, que estava com uma enorme rachadura no rosto.
- Sinto muito, vovó... - disse ela, entre soluços – A boneca escorregou da minha mão e caiu no chão... A senhora tinha mesmo razão, eu não devia ter pedido para brincar com ela...
A avó pegou a boneca das mãos da garotinha e passou os dedos sobre a rachadura em seu rosto. Após um breve suspiro, sorriu e disse:

- Na verdade quem tinha razão era você, querida. Você se divertiu muito mais com essa boneca num único dia do que eu. Quando for adulta, poderá recordar desses momentos em que se divertiu com ela, enquanto tudo o que eu tenho é a lembrança dela guardada numa caixa fechada...


domingo, 8 de agosto de 2010

O Vento e a Flor

O Vento soprava distraído pelos campos, impulsionando o voo dos pássaros, balançando as copas das árvores e fazendo rodopiar as folhas caídas ao chão. De repente, avistou a Flor mais bela que já havia encontrado e diminuiu sua velocidade para admirá-la.
Aproximou-se e, tornando-se uma brisa suave, tocou de leve a bela Flor, fazendo suas pétalas moverem-se graciosamente, como se acenassem. O Vento foi envolvido pelo aroma delicado da Flor e, naquele instante, ela tornou-se o que havia de mais precioso.
Desejando ter sempre a Flor ao seu lado, o Vento decidiu levá-la e começou a soprar, para que ela voasse para junto dele. Mas as raízes de Flor eram bem presas ao solo e não se soltaram.
O Vento então tomou fôlego e soprou com mais força, tornando-se uma ventania. As pétalas da indefesa Flor começaram a se soltar e seu caule delicado, não suportando a ventania, curvou-se e partiu-se ao meio. A Flor tombou, destruída e já sem beleza alguma. Ao perceber o que havia feito, o Vento suspirou arrependido e se foi daquele campo.

Ele não havia pensado no que seria o melhor para a Flor, não procurou entendê-la e não respeitou a maneira como ela vivia. Por ter pensado apenas no que seria bom para si mesmo, o Vento acabou destruindo o que era mais precioso para ele.

domingo, 1 de agosto de 2010

O Menino e os Balões Mágicos

Em uma pequena cidade vivia um menino mimado e egoísta, que não compartilhava nada que era dele e, por isso, não tinha amigos. Um dia, enquanto caminhava pela rua, avistou um homem vendendo balões de várias cores, que estavam amarrados numa bicicleta. O vendedor se aproximou do menino e disse:

- Olá, garoto. Gostaria de comprar um balão? São balões mágicos e os vendo apenas para crianças escolhidas e que precisam deles. Custa apenas uma moeda.

- Por que diz que preciso deles? E por que diz que são balões mágicos? – perguntou o menino.

- Porque cada um deles pode fazer você voar!

O menino logo se animou, pensando na inveja de todas as crianças ao vê-lo flutuando pela cidade, e decidiu comprar um. Ao segurar o balão, nada aconteceu e, irritado, chamou o vendedor de mentiroso.

- Calma, garoto. Talvez seja porque seus bolsos estejam muito pesados.

- Pode ser...- respondeu o menino. - Meus bolsos estão cheios de moedas.

O menino então decidiu se livrar do peso extra e usou todas as moedas para comprar mais balões, pensando que assim poderia voar mais alto ainda, causando mais inveja para as outras crianças.

O vendedor então desprendeu seus balões da bicicleta e os entregou ao menino em troca de suas moedas. Ansioso, o menino segurou os balões, preparado para se elevar até as nuvens. Mas novamente nada aconteceu. Decepcionado, o menino começou a chorar e disse:

- Por que não estou voando, se meus bolsos agora estão vazios? Por que mentiu para mim?

- A magia só funciona se você segurar apenas um balão. – respondeu o vendedor. – Para que precisa de tantos?

- Então, se eu soltar os balões e ficar apenas com um, conseguirei voar?

- Seus bolsos estão leves, mas se você soltar os balões apenas para voar sozinho e fazer inveja aos outros, seu coração ficará pesado como uma pedra e não sairá do chão...

- Quer dizer que não poderei voar nunca? – choramingou o menino.

- Ora, garoto... Por que voar sozinho, se pode voar junto de muitos amigos? Compartilhe os seus balões e deixe seu coração leve.

O menino pensou, pensou... E decidiu tentar, já que era a única alternativa que tinha. Correu até a pracinha da cidade e deu cada um dos seus balões para as crianças, que aceitaram surpresas, dando em troca um sorriso. Ao entregar o penúltimo balão para a última criança que lá estava, a magia começou a fazer efeito e todos começaram a flutuar, incluindo o menino que comprou os balões.

As crianças riram contentes, enquanto sobrevoavam a cidade com seus balões coloridos. O menino então sentiu pela primeira vez a alegria de compartilhar e, com seu coração leve, voou com seus novos amigos pelo céu azul.

O vendedor observou a cena de longe e, ao ver que havia cumprido sua missão ali, pedalou sua bicicleta e seguiu em busca de outras crianças que precisavam de seus balões mágicos.